"Canto Periférico" é um poema de autoria de Rodrigo Ciríaco, publicado no livro "Pode Pá Que É Nóis Que Tá" (Coletânea de contos e poemas, Edições Um Por Todos, 2012) que retrata alguns cortes, cenas poéticas das periferias brasileiras e suas problemáticas: a violência urbana, a exclusão, a desigualdade social; a não valorização cultural e artística produzida nas quebradas. O poema é dedicado ao movimento das "Mães de Maio" e recebeu a benção destas.
A ideia de transformá-lo em um "clipoético" veio da parceria realizada entre o coletivo de literatura e teatro, os Mesquiteiros e o coletivo de audiovisual Mundo em Foco, ambos de Ermelino Matarazzo, Zona Leste de São Paulo. Não bastasse a proximidade geográfica destes grupos, a afinidade poética e ideológica aproximou os mesmos nos últimos 02 anos e, em especial neste ano de 2012, já rendeu alguns frutos, como a cobertura sobre a participação dos Mesquiteiros na FLIP e a produção do vídeo "Biqueira Literária", que retratou a repressão sofrida pelos poetas nas ruas durante o evento, além de outras coberturas colaborativas.
Aliás, é a partir daí que surge o "M&MTube". Este é o nome do trabalho conjunto destes dois coletivos e que tem a proposta de unir literatura periférica, teatro, vídeo e fotografia no desenvolvimento e realização de novos trabalhos literários, teatrais e audiovisuais.
Assista e curta a nova produção clipoética, "Canto Periférico":
Poema: Rodrigo Ciríaco
Direção: Rodrigo Sousa & Sousa e Rodrigo Ciríaco
Fotografia: Mauricio Alexandre, Patrick Santos, Rodrigo Sousa & Sousa e Mesquiteiros
Maquiagem: Beatriz Maria e Mayra Jóia
Iluminação: Beatriz Maria e Stephanie Modesto
Som Direto: Vinicius Souza
Produção: Ozana Sousa & Sousa
Making Of e Apoio: Mayra Jóia, Amanda Pereira, Renata de Andrade, Bruna Silva e Mônica Alves
Edição: Rodrigo Sousa & Sousa
Realização: M&MTube (Mundo em Foco e Mesquiteiros)
Apoio: Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias
CANTO PERIFÉRICO
Periferia, Periferia...
Peri feria,
Não fere mais
Peri não causa mais azia
Na burguesia
Quando essa ouve Racionais
Quando essa mente ainda mais
Ao dizer que todos os conflitos
Raciais
Classiais
Sociais
Foram deixados lá, pra trás
No século que nem me viu
No séquito que diz que o Brasil
É o pais do futuro
Mas eu pergunto: qual futuro?
Que fruto sobrou pro futuro?
Estará caído podre
Quando podia ser colhido maduro?
Qual o furto feito no palácio
De um prédio nada escuro?
Quem roubou o meu passado?
Quem ainda nega o meu presente?
Alguém aí, sente?
Quem hoje denuncia esta gente?
Periferia, Periferia...
Peri fedia, alguns dizem
Não fede mais
Nem cheira
Hoje queima pedra,
Crack
Na beira do Viaduto do Chá
Enquanto os herdeiros dos barões do café
Continuam a se banhar
Nas margens do rio Tietê
Pô, será que você não vê
Que eles se mudaram pra Pinheiros
E gastaram muita construção
Pra justificar o dinheiro
De uma antiga Águas Espraiadas (alô, Roberto Marinho!)
De uma atual Ponte Estaiada
Que pra mim, na boa
Não serve pra nada
A não ser expor o poder do capital
Esse animal que não sabe olhar pra Peri
Periferia, Periferia
Perimetria disputada
Palmo a Palmo
Tapa a Tapa
Tiros: pá!
De borracha
A dispersar a multidão
Que fechou a rua
Queimou pneus
Ofuscou a lua
Contra a reintegração de posse
E vem, os cão,
Sem vacina
Em posse
Da raiva
E vem, os cão, pra promover
Mais uma chacina
Em posse da carta
Do juiz
Que nos diz:
Que não se pode morar aqui
Que não se pode viver ali na
Periferia
Periferia
E fere
Meus sentimentos
Quando é que Peri vai crescer
E deixar este tormento?
Quando é que a periferia
Vai se tornar o centro?
Não apenas da atenção policial
Quando é que a gente vai deixar as páginas
Do caderno social?
Quando é que a gente será reconhecido
Pelo nosso valor
Cultural
Pelo nosso valor
Ancestral
Pelo nosso valor
Sentimental?
Eu digo, Peri:
Tem que ser hoje
E quem sabe vai ser aqui
Na Periferia
Periferia, Periferia...
Peri feria,
Não fere mais
Peri não causa mais azia
Na burguesia
Quando essa ouve Racionais
Quando essa mente ainda mais
Ao dizer que todos os conflitos
Raciais
Classiais
Sociais
Foram deixados lá, pra trás
No século que nem me viu
No séquito que diz que o Brasil
É o pais do futuro
Mas eu pergunto: qual futuro?
Que fruto sobrou pro futuro?
Estará caído podre
Quando podia ser colhido maduro?
Qual o furto feito no palácio
De um prédio nada escuro?
Quem roubou o meu passado?
Quem ainda nega o meu presente?
Alguém aí, sente?
Quem hoje denuncia esta gente?
Periferia, Periferia...
Peri fedia, alguns dizem
Não fede mais
Nem cheira
Hoje queima pedra,
Crack
Na beira do Viaduto do Chá
Enquanto os herdeiros dos barões do café
Continuam a se banhar
Nas margens do rio Tietê
Pô, será que você não vê
Que eles se mudaram pra Pinheiros
E gastaram muita construção
Pra justificar o dinheiro
De uma antiga Águas Espraiadas (alô, Roberto Marinho!)
De uma atual Ponte Estaiada
Que pra mim, na boa
Não serve pra nada
A não ser expor o poder do capital
Esse animal que não sabe olhar pra Peri
Periferia, Periferia
Perimetria disputada
Palmo a Palmo
Tapa a Tapa
Tiros: pá!
De borracha
A dispersar a multidão
Que fechou a rua
Queimou pneus
Ofuscou a lua
Contra a reintegração de posse
E vem, os cão,
Sem vacina
Em posse
Da raiva
E vem, os cão, pra promover
Mais uma chacina
Em posse da carta
Do juiz
Que nos diz:
Que não se pode morar aqui
Que não se pode viver ali na
Periferia
Periferia
E fere
Meus sentimentos
Quando é que Peri vai crescer
E deixar este tormento?
Quando é que a periferia
Vai se tornar o centro?
Não apenas da atenção policial
Quando é que a gente vai deixar as páginas
Do caderno social?
Quando é que a gente será reconhecido
Pelo nosso valor
Cultural
Pelo nosso valor
Ancestral
Pelo nosso valor
Sentimental?
Eu digo, Peri:
Tem que ser hoje
E quem sabe vai ser aqui
Na Periferia